quinta-feira, 16 de abril de 2009

Exemplo de Vida (Reportagem extraída da revista Marie Claire)

O comerciante Massataka Ota, 48 anos, fez o impossível: perdoou os homens que seqüestraram e mataram seu filho, Ives Ota, de 8 anos. O seqüestro aconteceu no dia 29 de agosto de 1997, e Ives foi morto no mesmo dia. Paulo de Tarso Dantas, Sérgio Eduardo Pereira de Souza e Adelino Donizete Esteves foram presos pelo crime e condenados a 43 anos de prisão (Sérgio Eduardo recorreu da sentença) 'Para mim, perdão significa libertação. Não adianta viver com ódio. Você tem que se libertar desse sofrimento para começar a viver melhor. Antes de perdoar os seqüestradores do meu filho, eu tinha pesadelos, via o sofrimento do meu filho, a imagem dos assassinos, sabe? Foi só depois que perdoei um dos seqüestradores frente a frente, durante um programa de TV, que os pesadelos desapareceram. Quando soube que o meu filho tinha sido assassinado, a primeira coisa que veio foi o ódio, a vontade de fazer justiça com as próprias mãos. Um dia, três meses depois, eu estava sentado sozinho no meu apartamento, chorando, com aquela saudade enorme do meu filho, quando olhei para cima e vi uma bolinha dourada voando. Falei: 'Ives, sei que você está bem e que não quer que o papai chore mais. A partir de hoje papai vai ser forte e lutar para que o seu nome não seja esquecido'. Decidi fundar o Movimento da Paz e Justiça Ives Ota e levantar uma bandeira: eu queria a prisão perpétua para crimes hediondos. Muita gente acha que é contradição falar em perdão e defender a prisão perpétua ao mesmo tempo. Mas eu não concordo. Acredito que é preciso endurecer para que os criminosos pensem duas vezes antes de cometer crimes desse tipo. Sou a favor da prisão perpétua, mas não da pena de morte.

'Acredito que, se todo mundo conseguisse eliminar os sentimentos de ódio e mágoa, não ia existir mais violência. Enquanto não tiver perdão, ela vai continuar a existir '

Uma pessoa que me ajudou muito nessa história foi o meu cunhado, o Teigi. Um dia, ele trouxe uma oração para a gente praticar, a Oração do Perdão, da Seicho-No-Ie. Eu e a minha esposa começamos a praticar essa oração dez, 20, 30 vezes por dia. Essa prática me ajudou muito. Em 2002, eu estava assistindo ao 'Fantástico' na TV e vi esse quadro chamado 'Hora da Verdade', onde uma vítima perdoava o criminoso. Naquele momento, senti que a televisão estava falando para mim. Decidi que ia participar do programa e provar para mim mesmo que podia perdoar os seqüestradores. Uma semana depois, estava tudo combinado: eu ia conversar com o Adelino Donizete Esteves no presídio de Avaré, onde ele cumpre pena. Eu me preparei espiritualmente para aquele momento. Fiz a oração várias vezes antes de sair, e continuei orando no caminho. No momento em que fiquei frente a frente com ele, não senti raiva, simplesmente conversei. Eu disse a ele: 'É duro para um pai vir aqui. É fácil salvar um amigo, é difícil salvar um inimigo. Mas eu estou aqui pra te salvar. Eu conheci sua filha de cinco anos, e quero que você saiba que desejo para ela o contrário do que você fez com o meu filho. Quero que ela cresça, que tenha um casamento muito feliz e tenha muitos filhos'. Os olhos dele começaram a lacrimejar, e aí ele me falou que ia cumprir a pena dele direitinho. Saí do presídio com o meu coração limpo. Hoje, sinto o meu filho sempre do meu lado. Mesmo que ele não esteja aqui, no mundo espiritual eu tenho certeza que ele está feliz. Depois do programa, algumas pessoas ficaram com raiva, acharam um absurdo eu perdoar o assassino do meu filho. Mas, ao mesmo tempo, tinha gente que vinha me abraçar na rua. Muitos pais começaram a nos procurar, gente que também tinha perdido os filhos. Eles chegavam falando em vingança, e a gente amenizava, falava em perdão. Começamos a fazer palestras em escolas, presídios, na Febem, sempre falando em perdão. Eu acredito que, se todo mundo conseguisse eliminar os sentimentos de ódio e mágoa, não ia existir mais violência. Mas, enquanto não tiver perdão, a violência e a guerra vão continuar a existir.'

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